terça-feira, 11 de julho de 2017

DA PRUDÊNCIA DA FÉ – CAPÍTULO XV-LIVRO IMITAÇÃO DE MARIA


Maria meditava, diz o Evangelho, quando lhe trouxera o Anjo a palavra do Senhor. As reflexões de Maria eram filhas da humildade e da fé. Esta virgem prudentíssima sabia que o Anjo de trevas muitas vezes se transforma em Anjo de luz, que o espírito do erro algumas vezes imita a voz do Espírito da Verdade.
Então, Maria interroga o Anjo e fica à espera da resposta, a ver se a resposta concorda com o que do Messias falaram os profetas e com os princípios de sua religião. E depois que lhe falou o Anjo, já não mais carecia de outra norma de conduta senão a que se continha na palavra mesma do Anjo, porque traduzia a palavra de Deus.
Há uma prudência que torna a alma submissa à fé, bem longe, por isso mesmo, de lhe ser adversa.
Primeiro a prudência abre os olhos da alma para que se certifique da natureza da revelação. Depois, ela os fecha para que a alma cegamente creia. "Não devemos crer em qualquer espécie de espirito" (1Jo 4,1). Do que me dizem nada quero crer, em matéria de religião, senão o que está conforme ao que disse Deus, por si e pela Sua Igreja, "que é a coluna e o apoio da Verdade" (1Tim 3,15).
De muitas maneiras podemos conhecer o que foi revelado por Deus.
Mas, uma vez que a revelação é certa, "anátema a um Anjo mesmo" (G1 1,8) que o contrário pretendesse ensinar-me do que ela me ensina.
Creio no que a religião me ensina, porque nada me ensina que Deus não haja dito. E o que de mais acertado haverá do que aquilo que é a Verdade mesma? Tão impossível será que me engane como Deus me enganaria ou enganar-se-ia a si próprio.
Refinada loucura é crer alguém uma coisa como palavra de Deus sem justos motivos. Não só de pagão é essa loucura, senão de muitos cristãos também. Ao contrário, crer em alguma coisa baseada em justos motivos como palavra de Deus será prova isso de grande sabedoria. Crer firmemente nas verdades reveladas por Deus e participar da infalibilidade do próprio Deus! O exame feito em matéria de religião com o mesmo espírito de Maria tem o salutar efeito de nos fazer inabaláveis na fé. Pessoas há, entretanto que fazem tal exame com intenção de entreter os erros que amam, em vez de aprender o que devem crer e o que devem amar.
A intenção delas não é o encontro, a pesquisa, o conhecimento da Verdade, mas antes as razões de duvidar da Verdade, que suportar já podem.
Regras acertadas não procuram por saber em que devem crer e como devem viver, senão que o alvo das suas pesquisas é viverem no crime sem remorsos.
Um sistema de irreligião parece bem ao gosto de muitos a quem a fé constrange.
Em via de regra, suspeita-se da fé quando esta começa a se tornar incômoda. É a santidade de suas máximas que aos incrédulos revolta, mais ainda que a incompreensibilidade dos seus mistérios. Ou às paixões renunciam, ou jamais deixarão de lutar n'alma os remorsos e pavores. Daí vem a deliberação que se tomará de em nada mais crer ou duvidar de tudo, menos a respeito do torto caminho em que se perdem muitos.

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